quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O papel da moda na juventude


Por Brisa Anciutti

A moda é uma questão muito polêmica e ao mesmo tempo muito presente e debatida principalmente no meio jovem. Manifesta-se como forma de expressão da personalidade, de diferenciação do jovem como indivíduo e ao mesmo tempo de sua inclusão dentro de um grupo social – as chamadas tribos urbanas. A psicologia muito já estudou sobre este tema. “O hábito fala pelo monge”, de Umberto Eco, é claramente um estudo do ato de vestir. “O vestuário é comunicação” é o mote da exposição, e nesse sentido, o “vestir” surge como uma tomada de consciência. Como ver a moda como objeto de sociabilidade geral entre jovens?
No mundo contemporâneo, é quase que impossível as pessoas não serem consumidoras de moda. Mesmo para aqueles que se dizem “contra o consumismo e contra as modinhas” não se dão conta de que eles próprios estão “lançando uma moda” de não consumo e que consequentemente esta moda se reflete nas vestimentas destes indivíduos. Afinal, o vestir é necessário desde os primórdios da civilização, tanto como forma de proteção, quanto de pudor, de religiosidade, ou inúmeras outras formas que podemos levar em consideração, afinal, a nossa sociedade não aceita a nudez em público.
A ideia não é defender um consumo desenfreado, a moda descartável e fútil e sim a moda como forma de expressão; não a moda como fator de diferenciação de classes, mas de personalidades e expressão do íntimo de cada individuo. Ao mesmo tempo em que expressa uma individualização, a moda reflete a era em que vivemos, pois de uma forma ou de outra fazemos parte de um só tempo e isso é muito bem expresso nas roupas que vestimos – nesse sentido moda é fator de socialização.

A vestir da juventude é a forma mais escancarada de tradução da moda, pois é ousado, irreverente e até certo ponto teatral. Foge às “regras sociais” de “estar apresentável” ou “de acordo com a ocasião”; o vestuário do jovem traduz a ideia da moda como expressão do Eu, como diferenciação ou inclusão, independente de sua classe social. É a vontade de ser diferente e, ao mesmo tempo, igual. É assumir uma vida social e individual de acordo com ideologias e identidade. A juventude busca chocar, expressando sua rebeldia de maneira inovadora e moderna, de acordo com os fenômenos históricos, sociais, culturais e econômicos da época em que vivem.
Exemplos muito marcantes disso são os movimentos de jovens que, ao longo da história moderna foram os grandes impulsionadores da moda, começando na década de 50 com a introdução do uso do jeans pela “juventude transviada”; o movimento hippie nos anos 60, com suas cores e mensagens de “paz e amor” refletiam uma moda política bem colocada para a época. Seguindo a mesma trajetória, surge o movimento punk, também nos anos 60, onde a rebeldia “contra todos e contra ninguém” continua com seus adeptos até os dias atuais. O movimento grunge, muito forte nos anos 80 traz um look  “desleixado, mas de marca”, dando inicio ao louvor das roupas de grifes conceituadas, o que também refletia o cenário político e econômico daquela época.
Gilles Lipovetsky em seu livro “O Império do Efêmero” cita: ”A mudança de moda … não é efeito inelutável de um determinismo social exterior, … O que certamente não significa que não haja nenhuma lógica social da moda, mas que ai reina de maneira determinante a busca desatinada da novidade enquanto tal”.
Acredito que a juventude consegue traduzir não só em atos, mas em formas, cores, sobreposições, acessórios, essa busca interminável da sociedade por novidades.
Podemos buscar referências a esta “busca pelo novo” também em literaturas de 1850 em uma época considerada próspera. R.S Surtees, em um de seus romances (Ask mamma [pergunte a mamãe], 1853) reclamava que a “criada agora se vestia melhor do que sua senhora se vestia há vinte anos e é quase impossível reconhecer os trabalhadores quando estão usando roupas de domingo”.
Acredito que a moda é, sem dúvida, influenciada por classes mais abastadas da sociedade; porém uma análise apenas por este ponto de vista seria superficial, pois não podemos resumir a moda como algo simplesmente fútil. A moda é o reflexo de uma sociedade; é o retrato de um povo e de seus costumes, de seus pensamentos, de seus paradoxos, de suas histórias e conceitos. A moda deve ser analisada como um livro de histórias: dinâmico que a cada dia se acrescentam novas páginas a serem lidas e traduzidas, e esta análise pode nos trazer muitos dados importantes da sociedade.
Se a moda é considerada fútil, principalmente a moda do jovem, ou a sociedade ou o jovem é fútil. Assim, a tradução e análise desta moda que surge das tribos urbanas, constituída na maioria por jovens, não raro, vêm sendo feitas de forma superficial pela maioria dos formadores de opinião, o que me leva a crer que muitos deles não compreendem (ou não querem compreender) o que realmente é este fenômeno social chamado moda.
Por: Brisa Anciutti, Formada em Design de Moda na Faculdade Camões, MBA na Faculdade Gama Filho em Comunicação Eleitoral e Marketing Político e estudante de pós-graduação da Belas Artes curso de Consultoria de imagem e estilo.
Referências e bibliografias indicadas:
HOLANDA, SERGIO BUARQUE DE, 1902-1982. Raíses do Brasil / Sergio Buarque de Holanda. -26.ed.-São Paulo : Companhia das Letras, 1995.
ECO, UMBERTO E ALII (1975) – Psicologia do vestir, Arte e Produção,  Lisboa, 89 ps.
LIPOVETSKY, GILLES, 1944- O Império do Efêmero : a moda e seu destino nas sociedades modernas / Gilles Lipovetsky ; Tradução Maria Lucia Machado. – São Paulo : Companhia das Letras, 1989.
QUEIROZ, MÁRIO. Moda : O herói desmascarado – A imagem do homem na moda / Mário Queiroz. São Paulo: Estação das Letras e Cores Editora, 2009.
LAVER, JAMES, 1989 – A Roupa E A Moda: Uma Historia Concisa / James Laver. São

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