Por Brisa Anciutti
A moda é uma questão muito polêmica e ao mesmo tempo muito presente e debatida principalmente no meio jovem. Manifesta-se como forma de expressão da personalidade, de diferenciação do jovem como indivíduo e ao mesmo tempo de sua inclusão dentro de um grupo social – as chamadas tribos urbanas. A psicologia muito já estudou sobre este tema. “O hábito fala pelo monge”, de Umberto Eco, é claramente um estudo do ato de vestir. “O vestuário é comunicação” é o mote da exposição, e nesse sentido, o “vestir” surge como uma tomada de consciência. Como ver a moda como objeto de sociabilidade geral entre jovens?

A ideia não é defender um consumo desenfreado, a moda descartável e fútil e sim a moda como forma de expressão; não a moda como fator de diferenciação de classes, mas de personalidades e expressão do íntimo de cada individuo. Ao mesmo tempo em que expressa uma individualização, a moda reflete a era em que vivemos, pois de uma forma ou de outra fazemos parte de um só tempo e isso é muito bem expresso nas roupas que vestimos – nesse sentido moda é fator de socialização.
A vestir da juventude é a forma mais escancarada de tradução da moda, pois é ousado, irreverente e até certo ponto teatral. Foge às “regras sociais” de “estar apresentável” ou “de acordo com a ocasião”; o vestuário do jovem traduz a ideia da moda como expressão do Eu, como diferenciação ou inclusão, independente de sua classe social. É a vontade de ser diferente e, ao mesmo tempo, igual. É assumir uma vida social e individual de acordo com ideologias e identidade. A juventude busca chocar, expressando sua rebeldia de maneira inovadora e moderna, de acordo com os fenômenos históricos, sociais, culturais e econômicos da época em que vivem.

Gilles Lipovetsky em seu livro “O Império do Efêmero” cita: ”A mudança de moda … não é efeito inelutável de um determinismo social exterior, … O que certamente não significa que não haja nenhuma lógica social da moda, mas que ai reina de maneira determinante a busca desatinada da novidade enquanto tal”.
Acredito que a juventude consegue traduzir não só em atos, mas em formas, cores, sobreposições, acessórios, essa busca interminável da sociedade por novidades.
Podemos buscar referências a esta “busca pelo novo” também em literaturas de 1850 em uma época considerada próspera. R.S Surtees, em um de seus romances (Ask mamma [pergunte a mamãe], 1853) reclamava que a “criada agora se vestia melhor do que sua senhora se vestia há vinte anos e é quase impossível reconhecer os trabalhadores quando estão usando roupas de domingo”.
Acredito que a moda é, sem dúvida, influenciada por classes mais abastadas da sociedade; porém uma análise apenas por este ponto de vista seria superficial, pois não podemos resumir a moda como algo simplesmente fútil. A moda é o reflexo de uma sociedade; é o retrato de um povo e de seus costumes, de seus pensamentos, de seus paradoxos, de suas histórias e conceitos. A moda deve ser analisada como um livro de histórias: dinâmico que a cada dia se acrescentam novas páginas a serem lidas e traduzidas, e esta análise pode nos trazer muitos dados importantes da sociedade.
Se a moda é considerada fútil, principalmente a moda do jovem, ou a sociedade ou o jovem é fútil. Assim, a tradução e análise desta moda que surge das tribos urbanas, constituída na maioria por jovens, não raro, vêm sendo feitas de forma superficial pela maioria dos formadores de opinião, o que me leva a crer que muitos deles não compreendem (ou não querem compreender) o que realmente é este fenômeno social chamado moda.
Por: Brisa Anciutti, Formada em Design de Moda na Faculdade Camões, MBA na Faculdade Gama Filho em Comunicação Eleitoral e Marketing Político e estudante de pós-graduação da Belas Artes curso de Consultoria de imagem e estilo.
Referências e bibliografias indicadas:
HOLANDA, SERGIO BUARQUE DE, 1902-1982. Raíses do Brasil / Sergio Buarque de Holanda. -26.ed.-São Paulo : Companhia das Letras, 1995.
ECO, UMBERTO E ALII (1975) – Psicologia do vestir, Arte e Produção, Lisboa, 89 ps.
LIPOVETSKY, GILLES, 1944- O Império do Efêmero : a moda e seu destino nas sociedades modernas / Gilles Lipovetsky ; Tradução Maria Lucia Machado. – São Paulo : Companhia das Letras, 1989.
QUEIROZ, MÁRIO. Moda : O herói desmascarado – A imagem do homem na moda / Mário Queiroz. São Paulo: Estação das Letras e Cores Editora, 2009.
LAVER, JAMES, 1989 – A Roupa E A Moda: Uma Historia Concisa / James Laver. São
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