quinta-feira, 7 de março de 2013

Entrevista com Rafaela Rocha

Nosso Blog tem o prazer de entrevistar Rafaela Rocha, que é formada em Ciências Sociais pela UFPR, teve a oportunidade de participar do processo eleitoral na Venezuela na ultima campanha que reelegeu Hugo Chaves presidente daquele pais.


foto oficial do encontro que ocorreu na Venezuela 
01- Você foi para a Venezuela durante o período eleitoral do ano passado, como surgiu essa oportunidade?

Bom, eu e outros companheiros de diversas organizações fomos convidados ao Encontro de Juventudes em Favor da Revolução Bolivariana.  No caso da galera brasileira, fomos nós da UJS, companheiros da JSB, da JPT, do PDT, galera do MST, da Via Campesina, do Levante Popular e do vários outros movimentos camponeses. Além dos brasileiros, foram também convidados jovens de todos os países latino americanos  Numa quinta feria de agosto de 2012, eu recebi uma ligação com o convite: "Rafa, você é a fim de ir pra Venezuela?" eu prontamente respondi que sim, porque depois de Cuba essa seria a maior experiencia em governo de esquerda no mundo a ser vivenciada, não perderia a oportunidade!

02-Qual era o objetivo dessa atividade que você participou?

O Ministério de Juventude da Venezuela organizou o evento pra movimentar a união de esquerda no continente. E foi um golaço! A ministra é uma moça de no máximo 30 anos, com uma energia, uma retorica que deu uma lição de luta pra gente. Aí as delegações dos países foram divididas em ordem alfabética para cada estado venezuelano. Assim, no grupo em que fomos para o estado de Yaracuy, estávamos entre brasileiros, argentinos, uruguaios, chilenos, equatorianos, e outras delegações
menorzinhas. Chegando la havia um venezuelano para acompanhar cada estrangeiro nas atividades e a delegação cubana que estava em missão medica nos postos de saúde de la, cuidava da estrutura da saúde da galera também  Os debates que fizemos no interior do pais foram com respeito à postura dos governos do continente, a união que deve partir dos jovens para a integração dos países e uma real integração partida dos povos, visto que o Brasil é a potencia do continente e como essa potencia deve dialogar pra os seus vizinhos, para além da barreia do idioma.


03- Com qual impressão você saiu de lá? Como a população via a figura do Presidente Chaves?

Bom na ralidade trata-se de impressões, porque na real a impressão do povo era de satisfação, as pessoas estavam vendo sua vida melhorar, e entendendo o processo, a demora ou a agilidade de determinados processos. A militância é diferente, a Juventude do PSUV (Partido socialista união Venezuela) que eu conheci, é muito personalista com a figura do Chavez, o líder como ídolo  Eles seguem uma linha disciplinar bem rígida com estudos teóricos de textos clássicos  tática de milicia e debates conjunturais semanais! Assim, os caras passam por uma revolução cultural que muda a rotina da vida deles, a cultura deles, o que pra nós brasileiros não funcionaria bem assim! Militantes de outros partidos como do PCV (Partido Comunista Venezuelano) eu conversei muito pouquinho, não teve com tirar impressão, sabe...
Rafaela no Avião
Mas como bons caribenhos, os venezuelanos passam um amor enorme para cada coisinha, em dez minutos de conversa eles já estão te chamando de "mi amor"! Então havia muita paixão com relação ao lider deles, a expressão "mi comandante" era muito usada, eles tem um amor com o pais, um senso de cuidado com o que é publico muito grande, porque se eu gosto eu cuido, sabe aquela ideia?

04- Você foi no período eleitoral e a Mídia Internacional gosta de colocar que há uma ditadura na Venezuela, o que você diria disso?

Assim, a mídia internacional não acompanhou um terço do que a gente viu por la! A liberdade de expressão era super garantida, o pessoal de ambas as chapas circulava e fazia sua campanha muito tranquilamente, não eram amigos, é claro, mas trabalhavam cada um na sua. O Processo eleitoral na Venezuela é mais simples e transparente que aqui, por exemplo, isso nunca foi tratado pela imprensa! Mas sobre o processo eleitoral de lá a ente conversa uma outra hora, ta bom!
 A cobertura jornalistica dento do pais era muito mais detalhada, acompanhando os fatos bem no momento, como o acidente em uma refinaria e a inundação que aconteceram ambos no norte do pais, na época  Mas a transmissão desses fatos aqui para o Brasil fora muito esparsos, não se sabia ao certo o que estava rolando, parecia que alguém estava só passando de carro pelo local, deu uma olhadinha por alto no que acontecia e fazia a matéria, sabe!

05- Você presenciou algum boicote ou perseguição em relação ao candidato da oposição naquele período ou de seus apoiadores?

Sabe que não... Na real é aquela coisa de campanha eleitoral, um tira o cartaz do outro, um pixa o muro atacando o outro, mas é coisa de cabo eleitoral, né! Até penso que por isso o Caprilles saiu tranquilão da campanha, porque ele foi tratado com respeito pelos militantes de esquerda, os ânimos se agitarem, umas vaias é normal, mas agressão nunca aconteceu!

06-Depois de ter ido para lá alguma coisa da sua opinião mudou em relação a Venezuela e ao Governo de Hugo Chaves.

Não digo que mudou, mas ajudou a desmistificar muita coisa. Quer dizer, a gente tinha a ideia de que ele era um super líder, com um discuso bem ideológico  Mas nada se via sobre as reais mudanças na sociedade venezuelana, sobre o que o sistema do Chavez estava fazendo no pais. Porque quando ele veio aqui em 2006, ele discursou no Teatro Guaíra e eu o vi, achei aquilo o máximo  um revolucionário! Mas foi andando por Caracas que eu vi então o quanto esse cara trabalhou, sabe! Só pra dar uma ideia: ele erradicou o analfabetismo; mostrou pra população que as questões publicas se referem a cada um deles, com os ministérios populares; e ainda as crianças tem aulas práticas de artes nos museus e no passeio publico de Caracas, que dizer, faz inveja pras capitais europeias que tem a pose de serem superior, mas tem o preconceito e a desigualdade!

07- Houve alguma mudança na sua forma de ver o mundo como militante ou como pessoa após ter tido essa experiencia de conhecer a revolução Bolivariana?
Cartaz campanha da Reeleição 

Nossa, e como! Foram duas coisas: primeiro vi que é possível  que essa luta é nossa, que melhorar a vida das pessoas não é perda de tempo! Porque acreditar num mundo melhor e na verdade, amar a humanidade e a natureza não é uma utopia ridícula de hippie, é luta socialista, cara! E outra coisa foi pensar que o Brasil vem acima de tudo! Se largar no mundão fazendo revoluções é muito lindo sim, aproveitar os benefícios que Cuba ou a Venezuela tem em seus sistemas é um sonho. Mas o Brasil precisa mais da gente do que imaginamos e da seguinte forma: tira-lo da cultura alienante de massas; combater essa direita que explora, mente e ridiculariza a inteligencia dos trabalhadores; e mostrar que o Brasil é parte muito importante de um continente formado por países irmãos no sangue latino, na cultura e no calor humano! Não devemos mas mirar a Europa ou os EUA como exemplo, nossos exemplos estão aqui do nosso lado, ao passo que somos exemplo para eles também!
E perder aquela visão etnocêntrica de que argentino serve só pra gente fazer provocações de futebol, que o Paraguai é só muamba e contrabando. Isso é muito feio e preconceituoso, então a troca de conhecimentos entre a galera foi muito legal. A gente ensinava um sambinha, aprendia a tomar um mate uruguaio diferente, ouvia o toque de um tambor do equador bem legal, e assim cresceu a união entre os povos, união entre a galera pra fazer um povão só!!

08- Na sua opinião qual o legado que Hugo Chaves deixa para a historia?

Tem uma musiquinha que a gente cantava la bem assim: "Alerta, alerta, alerta que camina, la espada de Bolivar por America Latina". Que na real quer dizer que Bolivar não sonhou o impossível  ele viu o futuro. Ele viu essa juventude que debate junta, curte um som junta e que está construindo um continente novo junta. Foi isso que o evento proporcionou, e que também se refletiu pra militância de juventude de lá, foi a injeção de animo que eles precisavam, naquela hora.
Para a Venezuela, Chavez deixa uma qualidade de vida nunca antes vista, um poder de debate refinado em qualquer camada social, a cultura politica daquele povo está tão elevada que eles não irao mas se contentar com qualquer governo, sabe.
E para a politica a politica internacional, vejo que o dialogo entre os lideres hoje em dia é bem mais franco. Porque é graças a postura colocada por Chavez o longo de sua trajetória  que hoje em dia a Dilma pode falar abertamente quando não concordou com a Merkel (chanceler alemã), por exemplo. Há uma postura de mais coragem da parte dos lideres latino americanos, uma postura mais altiva por assim dizer. O mundo está começando a entender as nossas particularidades, nosso jeitinho, veja o Mujica, por exemplo! E também nos respeitando mais enquanto um grupo de países unido e cada vez mais forte, porém com uma visão igualitária das necessidades internacionais.
Penso que enquanto a gente tiver homens de personalidade e força como o Rafael Correa, o Evo Morales e o Pepe Mujica - o meu preferido destes! - e mulheres de fibra e determinadas como a Dilma e a Crisitna, creio que Chavez também governa!

9- Qual Recado você deixaria sobre essa sua experiencia na Venezuela?

Nossa, eu vivi aquilo intensamente cada minuto dos dez dias! Então assim, pra viajar pra outro pais, você tem que se despir daquilo que você já conhece como seu, ou seja, fazer conceitos novos sobre alimentação, relações, locomoção! É quase a mesma pira dos intercâmbios  Mas politicamente, eu dou muito mais valor pra linha politica que eu sigo: o comunismo. Vi que é uma ideologia que faz sentido e é viável  que amar e lutar pelo o povo e a natureza não é hipocrisia, mas sim um dever. Que nós temos vizinhos maravilho, são países incríveis com povos incríveis e lindos! E acima de tudo, que nós temos uma pátria amada pra defender, que o Brasil tem muito o que avançar pra ser confortável e feliz pra todo mundo!
Valeu muito Chavez, a gente vai seguir aprendendo com você  lutando como você e dando sequencia no destino que Bolivar e você viram pro nosso continente!

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